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Angola foi a ex-colónia que registou mais tensão com Portugal

"Era um país onde havia mais colonos de origem portuguesa, portanto, havia uma relação muito próxima com Portugal", defende professora universitária e investigadora.
Lusa 19 de Abril de 2024 às 12:20
Parlamento angolano
Parlamento angolano FOTO: DR
A professora universitária e investigadora Clara Carvalho destaca Angola como a antiga colónia portuguesa que registou momentos de tensão mais marcantes na relação com Portugal.

"Angola era um país onde havia mais colonos de origem portuguesa, portanto, havia uma relação muito próxima com Portugal", defende, considerando que havia vários interesses em jogo, alguns deles relacionados com os movimentos de libertação Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

Professora associada no Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas do ISCTE-IUL, Clara Carvalho é editora da revista Cadernos de Estudos Africanos e diretora do doutoramento em Estudos Africanos.

"O reconhecimento de que havia grupos importantes de pressão em Portugal que apoiavam a UNITA esteve sempre na origem da desconfiança do governo angolano relativamente a Portugal. E este facto é o principal foco das tensões entre Portugal e os territórios anteriormente colonizados. Mais uns que outros", detalha, destacando que essa tensão não se encontra em Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

"A Guiné-Bissau, apesar de ter sido enquanto um território colonizado aquele em que houve uma guerra mais eficaz, mais eficiente e mais bem conseguida de todos os territórios, nunca teve uma relação de conflito com Portugal a partir do momento da independência", exemplifica.

Clara Carvalho defende que é sobretudo a partir dos anos 1990, quando Portugal começa a investir seriamente na criação de uma política para África, que se vai se centrar nos atuais PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa] e vai passar por acordos de apoio político, vai passar em 1996 pela criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), "mas vai também passar pela cooperação portuguesa e isto ajuda a cimentar muito a relação de Portugal com as suas antigas colónias".

"Portugal nunca teve esta perspetiva neocolonial. E não estou a dizer isto em termos éticos ou em termos moralistas, mas pura e simplesmente porque era um país que tinha tido uma revolução [25 de Abril de 1974, que conduziu ao fim do chamado império colonial], tinha problemas internos para resolver, não tinha e não estava em condições de manter interesses económicos com os territórios descolonizados e era um país muito mais pequeno, comparando com países que se tinham tornado independentes", destaca.

Para Clara Carvalho, "Portugal teve sempre uma posição de certa maneira minoritária", disse, exemplificando com "as discussões que houve em torno da entrada da Guiné Equatorial para a CPLP".

"Portugal não tinha capacidade de se opor ao que era a vontade dominante, nomeadamente entre os PALOP membros da CPLP. E esta é uma situação que mostra que a posição de Portugal é que é muito mais uma posição negociada, diplomática do que de imposição, como nós sentimos relativamente a outros países", conclui.

Para o economista e também professor universitário Jonuel Gonçalves, Cabo Verde é, entre as antigas colónias portuguesas, a que mantém uma proximidade e relação de confiança mais forte com o antigo colonizador e que se reforça quando a sua moeda, o escudo cabo-verdiano passa a ter o escudo português e depois o euro como base referencial da sua política monetária.

"Isto com o apoio e trabalho feito em Portugal. E isto é uma responsabilidade muito grande que permite um nível de integração enorme", destaca.

No caso da Guiné-Bissau, "as coisas evoluem muito de acordo com quem está no poder", até porque a integração do país na sua região é muito grande, diz, considerando que "a presença da língua portuguesa é muito fraca".

"É a mesma situação em Moçambique. Digamos que os fatores culturais pesam muito nisto tudo, dentro do quadro geral da CPLP. Moçambique e a Guiné-Bissau apresentam realmente muito mais laços, muito mais afinidades com os países vizinhos do que com os países que têm o português como língua oficial. Já não é o caso de Angola", afirma.

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