Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, deu o pontapé de saída da conferência internacional contra o match-fixing realizada esta quarta-feira na Cidade do Futebol, tendo sido apresentado o projeto 'SAMF – Sports Against Match-Fixing', criado no âmbito dos programas Erasmus+ e coordenado pela FPF. Com uma intervenção em que destacou a importância de combater o match-fixing em conjunto com a PJ, fez referência ao caso 'Jogo Duplo', relacionado com viciação de resultados no futebol profissional português, em 2016.
"Considero absolutamente prioritária, fulcral e inadiável a luta conta a viciação de resultados e a defesa da integridade das competições", começou por dizer Fernando Gomes. "Não acreditamos em competições sem transparência, verdade e credibilidade. Desde 2016, na sequência do maior escândalo de jogos manipulados por casas de apostas em Portugal [Jogo Duplo], iniciámos uma cooperação constante entre a FPF e a Polícia Judiciária. Foi igualmente instrumental na elaboração e aprovação de uma nova lei – aprovada por unanimidade no parlamento – que facilitou todos os aspetos do combate à batota e falsificação das competições desportivas", acrescentou.
Já Pedro Dias, Secretário de Estado do Desporto, também presente num painel que contou com diversos convidados nacionais e internacionais – dirigentes de instituições como UEFA, FIBA, Comissão Europeia, COI ou INTERPOL – deixou muitos elogios aos "esforços que a UEFA e a Federação Portuguesa de Futebol têm feito no combate ao match-fixing", que considera um verdadeiro flagelo do mundo desportivo. Pedro Dias deixou claro, por isso, que "uma ameaça global exige uma resposta global" e vincou a importância de um "trabalho de cooperação entre todas as entidades", incluindo o Governo.
Fernando Gomes ao lado de Vincent Ven (Responsável pela Unidade Anti-Match-Fixing da UEFA) e Pedro Dias (Secretário de Estado do Desporto)
O problema das apostas desportivas
A Diretora da Unidade de Integridade e Compliance da FPF, Rute Soares, apresentou o projeto e explicou como tem sido feita a sensibilização de atletas, dirigentes e outras pessoas envolvidas no desporto em temas como as apostas desportivas. "O problema não são as apostas. As apostas em Portugal são legais, embora haja um mercado ilegal de apostas, e essas são um problema porque não se conseguem monitorizar tão facilmente. O problema é quando por causa de uma aposta se manipula o jogo. É a distinção que precisamos de fazer e é o que tentamos prevenir junto dos plantéis, porque o que pretendemos é que não haja manipulação do jogo por causa de uma aposta desportiva", reforçou.
"Quando começámos a perceber que tínhamos de ir mais além, em 2017, fomos a uma série de plantéis em conjunto com o Sindicato dos Jogadores e a Liga. Fomos a todos os clubes das competições profissionais. Percebemos que havia esse desconhecimento se podiam apostar ou não. Continuámos a fazer essa formação junto dos plantéis da Liga 3, da Liga Revelação, de todas as provas seniores e agora também de juniores. Fazemos isto com a ajuda das associações distritais e continuamos a perceber que ainda há aquela dúvida de 'mas não posso apostar, como assim?', mas já não tanto quanto no início", revelou, realçando o papel da plataforma da FPF para denunciar casos de match-fixing. "Foi com base nela que acabámos por ter o Jogo Duplo e outros casos", recordou.