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Impossível não entra no léxico destes empreendedores

Impossível não entra no léxico destes empreendedores

Distinção: entre veteranos e nomes emergentes, estes seis empresários são a prova que a ambição aliada à inovação e à liderança contribui para o dinamismo da economia, com impacto na criação de valor e expansão além-fronteiras

Impossível não entra no léxico destes empreendedores

Tiago Oliveira

Jornalista

Os contextos são variados, as gerações distintas e as origens diversas, mas se há algo que une os seis finalistas da 9ª edição do EY Entrepreneur of the Year, pode definir-se numa palavra: trabalho. É o que os leva a não parar e a destacarem-se nos respetivos ramos como exemplos de inovação quando vislumbram oportunidades onde os outros ainda não viram sequer um negócio. Eis as suas histórias.

1. De Singapura para Portugal

Chitra Stern
CEO da Martinhal Family Hotels & Resorts

O pai, indiano, queria que a filha, nascida em Singapura, fosse médica. Mas Chitra Stern optou por formar-se em engenharia eletrónica, em Londres, e acabou a gerir um grupo hoteleiro e imobiliário, com origem em Sagres. Uma viagem pelo globo que Chitra Stern incute ao “espírito empreendedor”, inspirada pelas “histórias de luta” que sempre significaram mais que as “vitórias fáceis”.

A empreendedora recorda que em 2001 Portugal ainda era o “país mais inexplorado da Europa ocidental” e havia “otimismo no ar” resultante dos fundos europeus e da Expo 98, o que aliado ao “saber receber e excelente inglês dos portugueses” foi decisivo para investir no Algarve, com a criação de um resort de luxo vocacionado para férias familiares, que surgiu mais tarde como consequência da crise financeira e de uma oportunidade de nicho que Chitra Stern e o marido identificaram. O resto é a história da expansão de uma marca que se alargou à Quinta da Marinha e à Quinta do Lago, por exemplo, dá cartas na construção imobiliária e inclui uma escola — a United Lisbon Internatio­nal School — porque a “mãe trabalhadora de quatro filhos” dá grande importância à aprendizagem contínua: “Saí várias vezes da minha zona de conforto.”

2. No lugar certo

Diogo Mónica
Cofundador e presidente da Anchorage Digital

“Durante a loucura inicial das criptomoedas, um cliente veio ter comigo por causa da minha especialização em cibersegurança, pois tinha perdido o acesso às suas cryptowallets [carteiras digitais onde se guardam criptoativos] e precisava da minha ajuda a fim de as recuperar.”

Em suma, foi “uma questão de estar no lugar certo à hora certa”, acredita Diogo Mónica, que foi para os EUA após o doutoramento em Ciências da Computação no Instituto Superior Técnico de Lisboa e que viu nesse momento a oportunidade de negócio que o levou à criação (com Nathan McCauley) da Anchorage Digital. Falamos de uma das principais plataformas de ativos digitais para clientes institucio­nais e “o primeiro e único banco de criptomoedas com licença bancária federal nos Estados Unidos”, o que representa “um marco histórico”. Além disso, Diogo Mónica também já investiu em mais de 100 empresas e é referido em cerca de quatro dezenas de patentes relativas a tecnologia. O empreendedor garante que, para o futuro, pretende continuar a “ser um angel investor e a ler mais de 50 livros por ano”.

3. Saltos quânticos

Francisco Rodrigues
CEO da PICadvanced

Coordenar a equipa nacional que desenvolveu e conseguiu certificar o primeiro equipamento compatível com o padrão (FTTH-NG-PON2) que irá dominar as redes óticas de telecomunicações até ao final da década foi o feito que chamou a atenção para Francisco Rodrigues e para a PICadvanced, que criou a partir da Universidade de Aveiro com o professor catedrático António Teixeira e onde prepara também o doutoramento em Circuitos Integrados Óticos para Redes Óticas Passivas.

“O dia a dia de um empreendedor é o enfrentar desafios e identificar novas oportunidades que irão trazer novos obstáculos e dificuldades”, acredita Francisco Rodrigues, com a certeza que “a adversidade gera disrupção mas permite o sucesso, colocando-nos novos caminhos pela frente e permitindo saltos quânticos, levando-nos a novos níveis”.

4. Os melhores da Europa

João Magalhães
Cofundador da Code for All

“Estamos apenas no início para alcançarmos a nossa missão de sermos a melhor empresa de tech talent na Europa e criarmos o melhor ecossistema de talento no continente”, assume João Magalhães, para quem ser finalista deste prémio é “a confirmação de que é possível criar uma organização ambiciosa e de escala, com muito impacto, e criar valor ao mesmo tempo”.

Ensinar a programar é o negócio da Code for All, com João Magalhães a contabilizar “mais de 1700 alunos que são hoje profissionais altamente qualificados e a trabalhar na área tecnológica” e cerca de “250.000 crianças que aprenderam a programar” com recurso a plataforma Ubbu. Números que impressionam e que têm origem em 2014, quando após licenciar-se em gestão, ganha experiência numa consultora e num banco e faz um MBA em Madrid, identifica que há 15.000 vagas por preencher na área e 150.000 desempregados licenciados em Portugal. “Foi desafiante ser pioneiro neste formato de empresa focado no lucro e no impacto.”

5. Imaginar e concretizar

Jorge Rebelo de Almeida
Fundador e presidente do Grupo Vila Galé

Tudo começa com a criação do Vila Galé em 1986 e com a abertura do primeiro empreendimento em 1988, precisamente na praia da Galé. Jurista de formação, Jorge Rebelo de Almeida ainda manteve “a atividade na advocacia por algum tempo”, até porque “a praia da Galé era desconhecida” e “o investimento obrigou a algum endividamento, numa época em que as taxas de juro eram muito altas”. Seja como for, estava aberto o caminho que levaria à criação de 38 unidades hoteleiras em Portugal e no estrangeiro, e que colocam o grupo entre as 169 maiores empresas hoteleiras do mundo.

“Acredito que, para se ter sucesso, não se pode arriscar no escuro. Tenho sempre este princípio para os negócios e até para a vida”, defende o empreendedor, sem esquecer a pandemia: “Tudo parou e tivemos quebras na faturação de 75%.” “Foi muito difícil”, recorda, mas nunca perdeu o otimismo e para breve está previsto o alargamento das operações para Cuba e Espanha. “Nada me dá mais prazer do que chegar a um sítio, imaginar algo para lá e depois ver essa ideia concretizar-se”, confessa.

6. Resiliência para o regresso

Sérgio Silva
CEO do Vigent Group

O empreendedorismo sempre acompanhou Sérgio Silva. “Ao sair da faculdade” decidiu que “pretendia trilhar” o seu “próprio percurso e, ao invés de entrar na empresa familiar”, optou por “criar uma empresa de importação e distribuição do camarão” produzido nessa exploração. Como acontece a muitos empreendedores, “o projeto falhou após um ano” admite.

Por isso, estar agora entre os seis finalistas da 9ª edição do EY Entrepreneur of the Year “é o reconhecimento de um trajeto empresarial, iniciado há mais de 20 anos, primeiro com a criação e desenvolvimento da Brasmar e, mais tarde, ao assumir a liderança do Grupo Vigent e subsequente reposicio­namento estratégico da Metalogalva”, reconhece.

Sérgio Silva não esquece “os anos desafiantes” que se seguiram ao regresso ao ponto de partida familiar em 2010, mas que prepararam “os alicerces para o forte crescimento que se verificou” posteriormente. Sempre com o pai como influência maior, “um modelo de self made man que, tendo origens humildes, ambicionou ter um projeto empresarial, assente em princípios sólidos de seriedade, humildade e muito trabalho”.

Quem os viu e quem os verá

  • Com arranque nos EUA em 1986, o EY Entrepreneur of the Year já se realizou em mais de 60 países,com um total aproximado de 10 mil candidaturas. Em Portugal,esta é a 9ª edição.
  • Líderes como Jeff Bezos,da Amazon, Howard Schultz,da Starbucks, Michael Dell,da Dell Computer Corporation,ou Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, são alguns dos mais destacados vencedores internacionais (pode conhecer alguns dos vencedores portugueses na caixa de enquadramentodo projeto).
  • A seleção foi resultado de um processo que combinou a recolha de informação com uma entrevista pessoal com o empreendedor, realizada por uma equipa sénior da EY. A informação foi então integrada num dossier sobre cada candidato e entregue ao júri, encabeçado por António Horta Osório, para definir os seis finalistas entre todosos candidatos.
  • Os principais critérios para avaliação do empreendedor são: propósito, crescimento, espírito empreendedor e impacto.
  • Após nova reunião do júri para chegar ao veredicto final, o grande vencedor será conhecido numa gala a realizar a 29 de junho.

Empreendedor do ano

O Expresso associa-se ao prémio EY Entrepreneur of the Year — um dos mais cotados programas globais de empreendedorismo —, que, em Portugal, atinge a 9ª edição, isto depois de anteriormente ter distinguido gestores como António Rios Amorim ou Dionísio Pestana. Acompanhe.

Textos originalmente publicados no Expresso de 2 de junho de 2023

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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