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Leão foi o primeiro a sorrir em liberdade

Em 1974, como Portugal, também o Sporting escreveu uma página de ouro na sua história

O ano de 1974 fica invariavelmente marcado pela queda do Estado Novo e o vermelho dos cravos entregues por Celeste Caeiro aos militares que concretizaram o golpe de estado naquele eterno dia 25 de abril. Mas nos relvados a revolução foi... verde. O Sporting foi não só o primeiro campeão de abril, como aquele que festejou a dobradinha – a quarta da sua história – em liberdade, um feito notável e até surpreendente, dado que a equipa vinha de um 5º lugar na temporada anterior. E mesmo o sonho das Taças das Taças apenas ruiu apenas nas meias-finais.

Terminou bem, mas até começou mal, com uma derrota em Setúbal (0-1), na 1.ª jornada, o que levou o 'vice' Jaime Duarte a avisar que seria difícil lutar pelo título. Uma afirmação que o plantel pareceu encarar como um desafio, já que daí para a frente entrou numa dinâmica difícil de parar, com várias goleadas, incluindo duas por 8-0 frente ao Montijo e Oriental – algo que, numa só época, apenas foi repetido 50 anos depois por... Rúben Amorim e companhia. Na primeira volta, somente o Benfica voltou a derrotar os leões, por 2-0.

Numa espécie de prenúncio, a entrada em 1974 e a vitória contra o V. Setúbal (2-1), a 6 de janeiro, abriu a liderança isolada que o Sporting não mais largou. Já a 31 de março, quando nada fazia prever a revolução que iria irromper em Lisboa semanas depois, a turma de Mário Lino voltou a ser derrotada pelas águias (3-5), apesar de o Presidente do Conselho, Marcello Caetano, ter sido ovacionado em Alvalade.

Curiosamente, os dias que antecederam o golpe de estado foram os piores da época do clube, que, no campeonato, empatou com o Beira-Mar e viu o Benfica a um ponto a três jornadas do fim; e na Europa, foi eliminado nas ‘meias’ da Taça das Taças pelo Magdeburgo, rival teoricamente acessível. Após o desaire na Alemanha (1-2), a 24 de abril, a equipa tomou conhecimento da revolução na viagem de regresso e foi autorizada a entrar em Portugal por António Spínola.

Inspirados pela mudança
A democracia... da vitória. Nos últimos sete jogos, o Sporting venceu-os todos. Foi campeão com dois pontos de vantagem sobre o Benfica e vingou-se do rival na Taça de Portugal. O jovem técnico Mário Lino foi um dos obreiros, apesar de ter sido afastado antes da final; e Yazalde o matador, com 46 golos na Liga, número que ainda hoje é recorde e lhe valeu a Bota de Ouro.

Zonas centro e sul dominaram o país
Nem só da dobradinha do Sporting se fez o panorama do futebol português em 1974. Nesse ano, as competições nacionais foram dominadas por emblemas das zonas centro e sul do país, como se percebe por aqueles que venceram as respetivas divisões: União de Tomar (II Divisão Zona Sul e a Fase Final), Alba (III Divisão - Série B), Estrela de Portalegre (III Divisão - Série C) e Estoril (III Divisão, Série D). Sp. Espinho (II Divisão - Zona Norte) e Paços de Ferreira (III Divisão - Série A) deram troféus ao norte.

'Peladinha' e garraiada
A época do Sporting findou em festa, com um convívio na Herdade do Rio Frio, em Palmela. De manhã realizou-se um particular com a equipa local (4-4) e à tarde foi tempo de... garraiada.

Uma final ao som de Zeca Afonso
O Estádio Nacional do Jamor recebeu inúmeros jogos da Taça de Portugal, mas a final de 1974 foi diferente de todas as outras, por ser um símbolo das conquistas de abril. As marcas da ditadura, como a repressão policial, desapareceram e deram lugar à festa do povo... e do futebol.

A 9 de junho de 1974, com o estádio lotado, defrontaram-se os eternos rivais de Lisboa, Sporting e Benfica. Apesar da conquista do título, a preparação dos leões foi instável, com a saída de Mário Lino, substituído por Osvaldo Silva, e a ausência de Yazalde, convocado pela Argentina. Já o Benfica tinha fresca na memória a vitória em Alvalade (5-3), dois meses antes.

Pelo estádio ouviu-se 'Grândola, Vila Morena', de Zeca Afonso, e a bola rolou. Aos 32', Nené colocou as águias na frente e, ao intervalo, os presidentes João Rocha e Borges Coutinho reataram, com um abraço, as relações institucionais entre os clubes. A correr atrás do prejuízo, o Sporting arriscou e foi recompensado com o empate, por Chico Faria, já aos 89’, ele que foi preponderante para a reviravolta ao oferecer, no prolongamento, o golo da vitória a Marinho – Chico ainda foi expulso nos minutos finais. A festa final foi verde e branca, num clima até então único. "A Taça do meu país livre", descreveu Fernando Correia nas páginas de Record.

Por Ricardo Granada
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