Mais de 67% dos portugueses conseguiriam pagar despesa inesperada no valor do salário

Portugal está em 13.º lugar no indicador global de literacia financeira em inquérito dinamizados pela OCDE e em que participaram 39 países.

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Uma percentagem elevada de portugueses paga as contas a tempo DR
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Metade dos participantes na quarta edição do Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa afirma que, “se perdesse a principal fonte de rendimento, conseguiria pagar as suas despesas por um período superior a três meses”, e 67,6% dizem “ter capacidade de pagar uma despesa inesperada de valor equivalente ao seu rendimento mensal sem ter de pedir dinheiro emprestado ou a ajuda de familiares ou amigos”. O inquérito, realizado pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), inserido no exercício de comparação internacional dos níveis de literacia financeira dinamizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), através da International Network on Financial Education, coloca Portugal no 13.º lugar no indicador global de literacia financeira, acima da média dos 39 países participantes.

Ainda na comparação internacional, Portugal também ficou acima da média no indicador de bem-estar financeiro, ocupando a 7.ª posição, com 51,4 pontos, com resultados acima da média nas suas componentes de resiliência financeira e de avaliação subjectiva de bem-estar, revelou esta terça-feira o CNSF, de que faz parte o Banco de Portugal, a Comissão do Mercados de Valores Mobiliários e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.

O inquérito, que envolveu 1510 entrevistas válidas, porta-a-porta, entre Janeiro e Fevereiro de 2023, cruza respostas a um conjunto de questões com variáveis de caracterização socioeconómica ou com respostas a outras perguntas, quando relevante, e comparadas com as respostas obtidas nos inquéritos anteriores.

As conclusões da iniciativa realizada em 2023, um ano marcado por inflação e taxas de juro elevadas, mostram melhorias em vários indicadores, mas não em todos. O resultado menos positivo vem, por exemplo, da queda da percentagem dos entrevistados que afirma ter poupado no último ano, que é menor do que em 2020, “tendência que importa inverter para não comprometer os resultados alcançados na resiliência financeira das famílias”, refere o relatório.

Pela positiva, e relativamente à gestão do orçamento familiar e à capacidade de fazer face a choques financeiros, “a grande maioria dos entrevistados paga as contas a tempo (85,9%), evita compras por impulso (85%), considera que não tem demasiadas dívidas (78,5%) e controla sistematicamente as suas finanças pessoais (76,9%)”.

Segundo as conclusões do inquérito, promovido no âmbito do Plano Nacional de Formação, “a maioria dos entrevistados valoriza o futuro, discordando de que vive para o presente (68%) e de que tem mais prazer em gastar dinheiro do que em poupar para o futuro (52,6%)”.

O indicador global de literacia financeira médio em 2023 situou-se em 62,7 pontos, “é muito semelhante ao de 2020, mesmo com a melhoria no indicador de conhecimentos financeiros, ainda que persistam importantes lacunas em questões relacionadas com o cálculo de juros simples e juros compostos, a diversificação de risco e o poder de compra”.

A melhorar esteve a média do indicador de bem-estar financeiro em 2023, de 50,8 pontos, superior aos 41,9 pontos verificada em 2020, “o que resulta do aumento da resiliência a choques financeiros e da avaliação que os entrevistados fazem em relação à satisfação com a sua situação financeira”, refere o relatório.

A inclusão no sistema bancário também aumentou, com 96% dos entrevistados a deterem uma conta de depósito à ordem, e outros produtos mais detidos são os seguros (43,8%), os cartões de crédito (35%), os depósitos a prazo (34,2%) e o MBWay (33%).

Nas fontes mais utilizadas para obter informação sobre produtos financeiros estão “as recomendações da instituição e de familiares ou amigos”.

No campo literacia financeira digital, calculado para os entrevistados com acesso à internet, Portugal surge no 8.º lugar, com uma pontuação de 61,7, acima de países como a Finlândia, a Grécia, os Países Baixos, a Itália ou a Suécia. Neste domínio, destacam-se “os resultados acima da média na não partilha de palavras-passe (embora a alteração regular das palavras-passe e PIN esteja abaixo da média da OCDE) e outras informações pessoais, na importância atribuída à leitura das condições aplicáveis às compras online e à verificação da segurança do sítio de internet e no reconhecimento de que as criptoactivos não têm o mesmo curso legal que as notas e moedas”. Contudo, concluem os supervisores, “há ainda um longo caminho a percorrer na inclusão financeira digital, uma vez que cerca de um quarto da população adulta em Portugal não acede à internet”.

A amostra incluiu pessoas com 16 ou mais anos, e foi estratificada por critérios de género, idade, localização geográfica, situação laboral e nível de escolaridade.

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