Guerra no Médio Oriente

Netanyahu, o “carniceiro” de Gaza segundo Erdogan, “nunca” vai aceitar a autoridade do Tribunal Penal Internacional: guerra, dia 203

Erdogan e Netanyahu num encontro em Nova York, em setembro de 2023
Erdogan e Netanyahu num encontro em Nova York, em setembro de 2023
Anadolu / Getty

O presidente da Turquia voltou a comparar o primeiro-ministro de Israel a Adolf Hitler, e em troca foi acusado de “sonhar com o restabelecimento do Império Otomano”. Sete pessoas, incluindo israelitas e uma jornalista, foram detidas pela polícia de Israel por tentarem entrar em Gaza com comida

A última vez que o primeiro-ministro de Israel e o presidente da Turquia estiveram juntos pessoalmente foi há mais de seis meses, num encontro organizado pela diplomacia dos EUA em Nova Iorque. O ataque do Hamas aconteceu duas semanas depois: a resposta de Israel contra Gaza foi imediata, e a tensão entre os dois países, com uma relação historicamente complicada, não parou de subir desde então.

"O Hitler e os nazis do nosso tempo são os assassinos que mataram mais de 15 mil crianças em Gaza. Tal como os criminosos que o antecederam, Netanyahu deixou vergonhosamente o seu nome na história como o carniceiro de Gaza", afirmou esta sexta-feira Recep Erdogan, presidente turco, durante um discurso em Ancara.

Não é a primeira vez que Erdogan compara Netanyahu a Hitler. “Ninguém pode esperar que fiquemos em silêncio perante um genocídio", acrescentou o chefe de Estado turco, acusando Telavive de “matar sem piedade” cerca de 35 mil pessoas no enclave palestiniano desde o início da guerra.

Em reação às palavras de Erdogan, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita afirmou que o presidente turco está a "envergonhar o seu povo". “Volte à realidade e pare de arrastar a Turquia para lugares sombrios: está a envergonhar o legado de Atatürk e o povo turco!", escreveu Israel Katz, acusando Erdogan de “sonhar com o restabelecimento do Império Otomano.”

Apesar dos apelos da Autoridade Palestiniana no sentido contrário, o chefe de Estado turco vê o Hamas como “a resistência nacional palestiniana” e recusa o rótulo de organização terrorista. No passado fim de semana, Erdogan recebeu o líder político do grupo responsável pelos ataques de 7 de outubro, Ismail Haniye.

Logo nesse mês, Erdogan comparação a crise humanitárial em Gaza ao Holocausto, o que levou Israel a pedir explicações ao embaixador turco no país. No mês seguinte, Netanyahu criticou o apoio turco ao Hamas – e os papeis inverteram-se.

Governo de Israel “nunca” vai reconhecer autoridade do TPI


No mesmo dia em que foi comparado a um ditador por Erdogan, Netanyahu garantiu que o seu governo “nunca” vai aceitar a autoridade do Tribunal Penal Internacional (TPI). "A ameaça contra os soldados das forças de Defesa de Israel e as figuras públicas de Israel, a única democracia do Médio Oriente e o único Estado judeu do mundo, é escandalosa", protestou Netanyahu numa mensagem publicada na sua conta do Telegram.

As críticas do primeiro-ministro israelita, sob forte pressão popular para marcar eleições antecipadas, surgem após na semana passada ter sido noticiada a possibilidade de os juízes do TPI emitirem mandados de captura para militares e ministros israelitas, devido às violações do Direito internacional na guerra em Gaza.

Netanyahu sublinhou que nenhuma das decisões do TPI afeta as ações de Israel – mas “vão criar um precedente perigoso que ameaça os soldados e as figuras públicas de todas as democracias que lutam contra o terrorismo criminoso e a agressão perigosa".

"Não desistiremos. Israel continuará até à vitória na nossa guerra justa contra os abomináveis terroristas que procuram destruir-nos. Nunca deixaremos de nos defender", sublinhou o primeiro-ministro israelita.

Por outro lado, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) anunciou hoje que se vai pronunciar na terça-feira sobre um recurso da Nicarágua, que acusa a Alemanha de violar a Convenção sobre o Genocídio de 1948 ao fornecer armas a Israel para a guerra em Gaza.

Neste processo, a Nicarágua criticou a Alemanha pelo seu apoio a Israel, considerando "patético" dar armas ao governo israelita e, ao mesmo tempo, fornecer ajuda a Gaza, uma apresentação que Berlim considerou "grosseiramente tendenciosa". Berlim respondeu que a segurança de Israel está "no centro" da sua política externa.

Outras notícias

> Três rabinos e uma jornalista norte-americana foram hoje detidos pela polícia de Israel quando tentavam atravessar a passagem de Erez para levar alimentos para a Faixa de Gaza. As detenções foram anunciadas pela Rabbis for Peace, a organização a que pertencem os rabinos. Outros três ativistas israelitas foram detidos.

> Uma delegação do Egito e as autoridades israelitas fizeram hoje "progressos notáveis" para alcançar uma trégua na Faixa de Gaza, informaram fontes do governo do Cairo à televisão estatal egípcia Al-Qahera News. Israel terá cedido a uma suspensão das operações militares em Gaza durante seis semanas, permitindo trocas entre prisioneiros palestinianos e reféns israelitas.

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