Um presidente indigno

Quando se aproxima do fim o seu ciclo presidencial, Marcelo deixou de medir as palavras que produz e parece borrifar-se para as consequências nefastas que estas têm causado dentro da sociedade.

Assim que se instalou em Belém, Marcelo rapidamente se esqueceu de que as funções de presidente e as de comentador político são distintas e não podem ser desempenhadas, em simultâneo, pela mesma pessoa.

Tivemos que nos habituar às suas constantes diarreias verbais, não se cansando de opinar por tudo e por nada, como se ainda se encontrasse ao serviço de um canal de televisão, pago para se pronunciar sobre o panorama político e social do país e do mundo em geral.

As suas aparições diárias conduziram a que, em pouco tempo, deixasse de ser levado a sério e praticamente já ninguém se desse ao trabalho de o ouvir.

Apesar de tudo, os seus disparates auditivos eram, na maioria dos casos, inofensivos, razão pela qual não causavam muita mossa.

No entanto, agora, quando se aproxima do fim o seu ciclo presidencial, Marcelo deixou de medir as palavras que produz e parece borrifar-se para as consequências nefastas que estas têm causado dentro da sociedade.

E o caso assumiu proporções de dimensões gravíssimas, pelo que já todos nos interrogamos se oito anos na presidência não lhe terão queimado aqueles necessários fusíveis que nos asseguram o  nosso bem-estar mental.

Marcelo começou a disparar em todos os sentidos, sem qualquer tipo de contenção e deixando a dúvida se, na verdade, estará na posse da totalidade das faculdades mentais indispensáveis para o exercício do cargo de que foi investido.

Numa conversa de quatro horas com correspondentes da imprensa estrangeira, nem sequer pestanejou ao insultar o anterior e o actual primeiro-ministro, esquecendo-se de que a coabitação entre Belém e S. Bento é imprescindível para o normal funcionamento das instituições públicas e privadas.

Não satisfeito com os estragos que estava a causar, deu-se ainda ao luxo de se tornar completamente patético, ao trazer à baila a sua vida pessoal, em particular ao rebaixar o seu próprio filho e em nomear,  de entre todos os seus netos, aquele que considera o seu preferido.

Revelou-se um execrável Pai e um péssimo Avô!

Este descontrolo verbal indicia, como hipótese bastante provável, claros sinais de demência, os quais se têm vindo a agravar a cada dia que passa.

Mas o mais grave estava ainda para vir, ao embrenhar-se em considerações sobre o passado colonial português.

Marcelo quis dar a conhecer ao mundo a sua visão de que Portugal deve reparações aos países falantes da língua de Camões que há meio século obtiveram a sua independência.

Registe-se que à excepção de meia dúzia de histéricas da extrema-esquerda libertária brasileira, jamais algum responsável político dos países da CPLP se atreveu a sugerir  a ideia de que a antiga potência colonial está em dívida para com os restantes países lusófonos.

Criticado da esquerda à direita pelo seu desaforo, Marcelo, qual menino traquinas, egoísta e mal-educado, não deu o braço a torcer e mostrou-se incapaz de assumir o seu erro, reiterando, agora em Cabo Verde, as suas estuporadas convicções, deslize que lhe mereceu uma bofetada de luva branca por parte do seu homólogo e anfitrião, que se viu obrigado a recordar-lhe que esses assuntos não podem ser tratados na praça pública.

Recorde-se que Cabo Verde eram ilhas desertas quando os portugueses lá aportaram pela primeira vez, pelo que nenhum cabo-verdiano pode reivindicar ser descendente de nativos anteriores à colonização portuguesa, sendo que toda a obra por nós edificada se constituiu numa mais-valia para o povo que agora habita naquelas paragens.

O Brasil foi igualmente totalmente construído pelos portugueses, de quem os brasileiros descendem em linha directa, não tendo havido, ao contrário do defendido por algumas mentes distorcidas, qualquer tipo de roubo das suas riquezas naturais por parte dos colonos de então.

Do célebre ouro, que uma pequena minoria nos acusa de nos termos apropriado indevidamente, somente dez por cento foram destinados à Metrópole, tendo sido com o recurso aos restantes noventa por cento que se erigiu esse grandioso País que é hoje o Brasil.

De todos os territórios pelos quais os portugueses passaram foi deixada uma obra notável, que começou de evangelização e teve seguimento em infra-estruturas, como estradas, pontes, barragens, igrejas, edifícios, escolas e uma administração local robusta e eficiente.

Angola e Moçambique eram, em 1974, províncias em franco crescimento económico e, sem dúvida, das partes mais ricas e desenvolvidas de toda a África.

Se hoje são países quase destruídos e onde a corrupção e a pobreza estão generalizadas, estamos perante uma fatalidade da qual nós, portugueses, não podemos ser responsabilizados, mas sim é aos seus dirigentes, que assumiram e se foram substituindo no poder após a nossa saída, que a factura por tal descalabro deve ser endereçada.

Por isso, a pergunta que se impõe a Marcelo e de cuja resposta se aguarda, é a de que tipo de reparações estamos contratualmente ou moralmente obrigados?

Quem deve o quê e a quem?

Caso Portugal se veja na obrigação de indemnizar seja quem for, como consequência das palavras imponderadas daquele que se deveria afirmar como o mais alto magistrado da Nação, e não como o seu coveiro, conforme parece predispor-se, naturalmente que se deverá, também, equacionar o pagamento de todas as construções que ao longo de cinco séculos foram levadas a cabo pelos nossos antepassados e que hoje, as que sobreviveram no tempo, se mantém como património desses países.

Não nos podemos esquecer, do mesmo modo, das centenas de milhar de portugueses que foram expulsos dos territórios onde nasceram e espoliados de todos os seu bens obtidos ao longo de uma vida de trabalho. Não terão eles legitimidade para exigir serem ressarcidos das suas perdas, na eventualidade deste processo ter seguimento?

Terá Marcelo, na sua infinita ingenuidade ou má-fé, apercebido-se da caixa de pandora que abriu?

As suas insensatas palavras resultaram já no acordar de fantasmas adormecidos, que assim se manteriam perpetuamente se Marcelo não os tivesse acordado, com a vinda a terreiro de pedidos de indemnização por parte de dois dos países para onde expandimos a portugalidade.

A ver vamos as cenas dos próximos capítulos!

Mas quando se pensava que os disparates presidenciais se ficavam por aqui, eis que Marcelo nos surpreendeu de novo, também em Cabo Verde, mais precisamente no Tarrafal, quando, ao discursar perante chefes de estado da CPLP ou seus representantes, e referindo-se ao período colonial, teve o desplante de verberar que os portugueses rejeitam esse seu passado.

Mentira!

Nenhum português de bem renega o seu passado, muito pelo contrário, orgulha-se de tudo quanto os nossos antepassados fizeram em prol da humanidade, principalmente na expansão do cristianismo pelos quatro cantos do mundo, no espalhar de uma língua que está entre as mais faladas do planeta e no levantar e desenvolvimento de novos países, hoje referências no mapa internacional.

Cometemos erros? Certamente que sim! Não há sociedade alguma, desde os primórdios da vida humana, que não tenha estado isenta de falhas na prossecução dos seus objectivos, incluindo as democracias modernas, cada vez mais enfraquecidas com todas as evidentes debilidades que as consomem.

Mas a obra que fica como nosso legado supera, e em muito, hipotéticos danos que possamos ter causado a terceiros.

Marcelo ofendeu as gerações que nos antecederam, denegriu o bom nome de Portugal e traiu a confiança de milhões de portugueses que nele votaram.

Não tenho dúvidas de que, enquanto presidente, ter difundido as ideias de que devemos reparações aos países a quem demos vida e de que rejeitamos o nosso passado, Marcelo cometeu uma traição à Pátria, absolutamente imperdoável vindo de quem tem como dever primário estar na primeira linha da defesa dos princípios e valores que nos foram transmitidos por aqueles que, antes de nós, deram a sua vida por uma Nação da qual nos orgulhamos.

Se esta traição se materializa numa moldura penal, é matéria cuja decisão é da exclusiva responsabilidade das competentes autoridades judiciárias, mas em termos morais, trata-se de uma acusação à qual não se poderá furtar.

Fica apenas por apurar se as suas traiçoeiras palavras têm origem numa deficiência cognitiva assente na perda de faculdades mentais, ou se partem do seu real pensamento, exprimido na posse de uma racionalidade não diminuída por eventuais lesões cerebrais.

Perante este cenário, e tendo em conta que ainda restam dois anos de presidência ao actual inquilino de Belém, tempo mais do que suficiente para que continue a praticar estragos irreversíveis para a imagem de Portugal e dos portugueses,  fica uma certeza, a de que a Marcelo somente poderão estar destinados dois possíveis locais para os quais deva ser encaminhado: um hospício ou uma prisão!

A justiça que defina qual deles é o mais adequado.

Mas depressa, porque ontem já se faz tarde!